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Elaborada com o objetivo de alterar a legislação vigente sobre concessão de florestas
públicas nacionais e sobre gestão de Unidades de Conservação, a MP 1151, ao invés
de focar no tema, tratou principalmente de inserir na concessão florestal, como um
contrabando, o direito a comercialização de créditos de carbono florestais. Ou seja,
permitirá que a empresa que obtenha a concessão, por exemplo por 40 anos para a
exploração de 40 mil hectares em manejo florestal, obter igualmente a possibilidade de
aferir e comercializar créditos de carbono sobre tal área, convertendo o manejo
madeireiro em ativo ambiental e possibilitando que outro ente público ou privado,
nacional ou internacional, possa compensar suas emissões de gases de efeito estufa.
No fundo estamos falando do uso de florestas públicas e de Unidades de Conservação
no rol de licenças para poluir, corroborando para o atraso ao urgente e necessário corte
de emissões de gases de efeito estufa para enfrentamento da crise climática.
A inserção da possibilidade de transação de créditos seria um “atrativo”, como a própria
MP se refere, para investimento em manejo florestal, considerada uma das atividades
principais para que o Brasil alcance metas climáticas de estocagem de carbono. No
entanto, a realidade das florestas deve ser levada em consideração.
Por isso destacamos:
- As concessões florestais são executadas por empresas, que não representam povos
e comunidades tradicionais, logo, conferir a elas maior atribuição seria repassar a elas
o papel de guardiãs das florestas ou submeter os povos que vivem nessas áreas a uma
tutela do setor privado; - As áreas de concessão também podem ser reivindicadas por grupos étnicos,
portanto, conferir atratividade de mercado a concessão sem antes garantir demarcações
étnicas acentua conflitos territoriais; - A inclusão de Financial Technologies – Fintech no uso do recurso do Fundo Nacional
sobre Mudança do Clima avança nas medidas de financeirização da natureza e reduz o
direito ao meio ambiente a um ativo transacionável. A natureza é uma bem comum e
como tal precisa ser tratada como um direito. - A alteração na Lei nº12.114/2009 do Fundo Nacional sobre Mudanças Climáticas,
ampliando os agentes financeiros para financiamento da comercialização de créditos de
carbono florestais, atropela a retomada de leis, políticas e conselhos que foram
desmontadas pelo governo Bolsonaro, como o ENREDD+, CONAREDD+, código
florestal, Política Nacional de Mudanças Climáticas, Fundo Amazônia, dentre outras,
ignorando estudos e propostas debatidas durante o processo de transição do governo. - A comercialização de créditos de carbono florestal visa a compensação de emissões
por entes privados e atrasam a mudança necessária que o setor precisa para se
comprometer com as mudanças no padrão de produção e distribuição. - O Brasil ainda não possui nenhuma regulação em vigor sobre o mercado de carbono,
avançar com essa MP é colocar o carro na frente dos bois e gerar mais especulação e
pressão em cima dos territórios, sem marcos legais que regulem o setor e promovam a
proteção dos direitos territoriais e da consulta, livre prévia e informada. - A MP também reduz a barganha do Brasil nas negociações internacionais de
mudanças climáticas no âmbito da UNFCCC e da implementação do Acordo de Paris,
ao avançar em temas sensíveis, já que estão entregando ao mercado, via legislação
nacional, algo que ainda está em debate neste outro âmbito.
A MP 1151 é sobre concessão florestal, de biodiversidade e de crédito de carbono. São
questões muito profundas e que precisam ser debatidas com a sociedade.
Não votem a MP 1151!
Brasília, 28/03/2023
Assinam:
- Grupo Carta de Belém
- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
- Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito
Santo – Apoinme - Articulação dos Povos Indígenas do Sul – Apinsul
- Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
- Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – CONAQ
- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag
- Conselho Pastoral dos Pescadores – Norte
- Central Única dos Trabalhadores – CUT
- Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
- Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
- Marcha Mundial das Mulheres – MMM
- Movimento Negro Unificado – MNU
- Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
- Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem-Teto – MTST
- Alternativa para a Pequena Agricultura no Tocantins – APA-TO
- Amigos da Terra Brasil
- Associação Agroecológica Tijupá
- Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Mapuá – Amorema
- Associação Maranhense para a Conservação da Natureza – Amavida
- Amazon Hopes
- Articulação de Agroecologia da Amazônia
- Articulação das Pastorais do Campo
- Articulação Pacari Raizeiras do Cerrado
- Cosmopolíticas – Núcleo de Antropologia – Universidade Federal Fluminense – UFF
- Comissão Pastoral da Terra – CPT
- Comunidade Quilombola de Caldeirão – Salvaterra/PA
- Conselho Indigenista Missionário – CIMI
- Conselho do Povo Terena/ MS
- FASE – Solidariedade e Educação
- Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
- Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente – GEDMMA/UFMA
- Grupo de Pesquisa Costeiros – UFBA
- GT de Saúde e Ambiente da Abrasco
- Instituto Brasileiro de Educação, Integração e Desenvolvimento Social – IBEIDS
- Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc
- Instituto EQUIT
- Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais – Inga
- Instituto de Referência Negra Peregum
- Instituto Iepé
- Instituto Yande
- International Rivers Brasil
- Jubileu Sul Brasil
- Justiça Global
- Movimento Ciência Cidadã
- Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste – MMTR/NE
- Movimento SOS Chapada dos Veadeiros
- Núcleo de Estudos em Cooperação – NECOOP/UFFS
- Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres – NEPED/ UFSCar
- Organização de Desenvolvimento Sustentável e Comunitário – ODESC
- Rede Brasileira de Justiça Ambiental – RBJA
- Rede de Mulheres das Marés e das Águas dos Manguezais Amazônicos do Maranhão
e Piauí - Rede Urbana Capixaba de Agroecologia – RUCA
- Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – SRRT- Santarém/PA
- Sempreviva Organização Feminista – SOF
- Terra de Direitos