por Fernanda Pinheiro Monteiro*
Desde agosto estamos consumindo mais do que a Terra poderia nos fornecer para o ano; também passamos dos 400 ppm de CO2 (partes por milhão), nível considerado limite pelos cientistas para evitar os piores cenários do clima, e agora a temperatura média do planeta poderá subir entre 2 e 6 graus centígrados até o final deste século.
No ritmo que estamos consumindo, no longo prazo vamos culminar na exaustão dos recursos naturais. Já estamos colocando nossa qualidade de vida, dos nossos descendentes e o nosso futuro em risco. Todos esses fatores relacionados às atividades humanas (queima de gases de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural) são as principais causas do aquecimento global que intensifica o efeito estufa e ameaça a segurança alimentar global, já que aumenta o surgimento e a disseminação de pragas e doenças, sugere um novo estudo publicado no periódico científico Nature Climate Change.
Nos últimos seis anos foram realizados estudos do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas para projetar como o Brasil sofrerá com os impactos do aumento das temperaturas provocadas pelo aquecimento global. Os resultados mostram que o país ficará mais quente e terá uma mudança no regime de chuvas afetando muito a agricultura, parte fundamental do PIB brasileiro. No Sul e no Sudeste do Brasil, regiões que costumam sofrer com enchentes e deslizamentos, poderão sofrer ainda mais já que as chuvas se tornarão mais fortes e frequentes. Já no Nordeste, tende a ocorrer o oposto: mais diminuição no regime de chuvas e secas mais frequentes.
E afirmando o que outros estudos apontavam, nossa maior preocupação é com a Amazônia, onde a área mais ameaçada pelas mudanças será na parte mais suscetível à expansão da fronteira agrícola. Outra ameaça à Amazônia é a continuidade do desmatamento pela alteração na temperatura. Caso a Amazônia perca cerca de 40% da cobertura florestal, poderá existir uma mudança drástica na temperatura e um aquecimento regional de até 4ºC.
Quanto à agricultura, as previsões científicas apontam que se as emissões continuarem no mesmo patamar, nos próximos sete anos o plantio de soja perderia 20% de sua produtividade e 24% até 2050. Pragas e doenças estariam aliadas às mudanças climáticas já que se tornariam presentes em locais que antes não existiam. Hoje em dia é comum países altamente desenvolvidos na área agrícola serem capazes de monitorar e administrar pragas e doenças emergentes. O problema é que com o aumento da temperatura da Terra se as pragas forem em direção aos polos (onde estão os países que possuem os melhores rendimentos em suas plantações) o efeito seria o aumento na perda de colheitas, o que representaria uma ameaça à segurança alimentar devido ao crescente aumento da população global.
O setor agrícola é o que tem se preparado melhor para as mudanças climáticas, tem planos de adaptação e mitigação mais avançados até o momento. Algumas das soluções passam pela adaptação, como manejo diferenciado e consorciado, modificações genéticas e adubação correta. O cuidado com novas infestações e o controle para minimizar a disseminação de doenças devem ter esforços renovados e maior monitoramento já que as mudanças climáticas facilitam a disseminação de pragas. O governo deve estar atento às mudanças climáticas, alertar que os impactos não ocorrem só fora do Brasil e para o fato de que os danos podem ser sociais, ambientais e econômicos.
* Fernanda Pinheiro Monteiro é consultora de sustentabilidade da Keyassociados.