David Antonioli é o diretor executivo do Verified Carbon Standard, o programa voluntário de redução de gases do efeito estufa mais usado no mundo.
A entrevista é de Michelle Kovacevic, publicada pelo sítio Forests Climate Change e reproduzido pelo portal Envolverde, 11-3-2014.
Mais de mil projetos estão registrados no Verified Carbon Standard, supostamente removendo mais de 144 milhões de toneladas de emissões da atmosfera.
Antonioli fala ao ForestsClimateChange.org sobre recentes mudanças no mercado voluntário de carbono florestal e aspirações para o acordo climático de 2015
Eis a entrevista.
Como o mercado voluntário de carbono mudou em relação à silvicultura nos últimos anos?
Alguns fatores realmente importantes mudaram a forma como a conservação florestal é feita. O primeiro se relaciona ao fato de que há agora mecanismos adequados em vigor para permitir que o financiamento de carbono tenha um papel na conservação florestal. Agora temos padrões, agora temos metodologias, e agora temos projetos que passaram por todo um processo de validação e verificação de reduções.
Acredito que a ideia da conservação florestal, e do REDD+ em particular, ressoa nas pessoas. Na maioria das vezes, as pessoas pensam em dar dinheiro para grandes esforços gerais de conservação, ao passo que agora estamos começando a ver algumas empresas e outros órgãos entrando no REDD+ porque ele chega a resultados concretos, o que, é claro, é uma mudança de paradigma sobre como a conservação pode ser atingida.
Há agora um caminho de alto valor para reduções de emissões com o qual as empresas se sentem confiantes o suficiente porque há rigor subjacente. Isso realmente é outra mudança radical que está motivando os investimentos em REDD+.
E o que eu espero é que isso continue a crescer, significando que haverá cada vez mais indivíduos, empresas e outros órgãos que começarão a ver valor nesses tipos de projetos.
A outra grande mudança é que agora temos mecanismos de contabilidade, não apenas para projetos individuais, mas para reduções em nível jurisdicional.
Por um longo tempo, as pessoas sentiram que o REDD+ precisava ser contabilizado em uma escala mais ampla, particularmente porque era necessário lidar com preocupações sobre vazamento, que é basicamente garantir que os fatores do desmatamento não estejam simplesmente se deslocando.
Então agora há a possibilidade de projetos individuais serem desenvolvidos e aninhados dentro de estruturas jurisdicionais mais amplas, o que permite que governos tenham acesso ao co-financiamento que abre a eles o caminho para certos mecanismos compulsórios.
Mecanismos compulsórios estão agora bastante limitados para o REDD+, temos apenas o esquema de cap-and-trade da Califórnia.
Mas há outras oportunidades no campo do REDD, tais como as que estão sendo desenvolvidas pela Forest Carbon Partnership Facility. Eles têm regras claras em termos do que estão dispostos a investir. E também há governos como os alemães e os noruegueses, que estão explorando a ideia de fornecer financiamento de carbono como uma forma de conservar florestas.
Acredito que todos vemos isso como um caminho para chegar a um mercado compulsório mais amplo nos próximos anos, que pode ser liderado pela ONU.
Mercados de carbono têm se comportado um pouco como uma montanha-russa nos últimos anos, com o preço caindo bastante substancialmente. Como você vê isso nos próximos anos?
A montanha-russa tende a ficar principalmente no mercado compulsório. Sim, há altos e baixos no mercado voluntário, mas nada como se vê no mercado compulsório, no qual os preços têm caído e no qual há de repente esse enorme excesso de oferta com o qual as pessoas não sabem o que fazer.
Então, quando as pessoas dizem “o mercado de carbono é tão instável, olhe todas essas flutuações de preço”, é um reflexo do que está acontecendo no mercado compulsório e no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em particular.
A razão pela qual isso não está acontecendo no mercado voluntário é porque o crescimento neste último na verdade tem sido bastante estável ao longo do tempo, e muitos projetos voluntários conseguem manter seus preços. E isso é ótimo, porque nos dá mais confiança de que há um mercado real por trás de nós.
Embora não seja tão grande quanto o mercado compulsório, ele é bem robusto e há um compromisso real de muitas pessoas que estão compensando suas emissões e, assim, apoiando que organizações como o VCS continuem.
Então a demanda no mercado voluntário tem sido bastante saudável?
Acredito que a demanda tem ficado estável, mas obviamente adoraríamos ver mais demanda. Há muitos projetos que estão gerando mais reduções do que estão realmente vendendo. Mas dizer que precisamos de mais demanda não é necessariamente dizer que os preços estão caindo.
Há muito que precisa ser feito para continuar a disseminar e educar as pessoas sobre o valor do mercado voluntário de carbono de uma forma que as pessoas se engajem.
Na última semana, circulou a notícia de como a Chevy se comprometeu a comprar e evitar oito milhões de toneladas em reduções de carbono. Eles estão fazendo isso através de uma série de iniciativas diferentes, como promover a eficiência energética e energias renováveis em universidades e escolas nos EUA, e o fato realmente importante é que eles fizeram tudo isso para fortalecer a marca.
Quanto mais se veem exemplos como esse, mais as companhias se unirão e começarão a dizer “precisamos estar engajadas nessa questão e precisamos ser proativas e fazer algo sobre isso”.
2015 será um ano importante para a ação política em mudanças climáticas. O que você vê como o futuro dos mercados voluntários de carbono e onde as florestas se encaixam?
Mercados são uma grande ferramenta, e se pudermos ter algum tipo de compromisso em Paris para ações concretas em mudanças climáticas seria ótimo. Se mercados de carbono forem uma parte disso seria ainda melhor, já que isso garantiria a solução mais custo-efetiva.
Em termos de florestas, acredito que há a possibilidade de termos algum esforço baseado na inclusão do REDD+ em uma estrutura de mecanismo de mercado da ONU.
Adoraria ver a o reconhecimento de projetos e programas existentes, incluindo as reduções que atingiram. Muitos projetos e programas pioneiros assumiram riscos enormes e dedicaram muito tempo para conhecer as regras à medida que avançavam. Será uma mensagem muito importante reconhecer os esforços de pioneiros em um futuro mercado compulsório.
Como tais decisões podem afetar a forma como o mercado voluntário opera?
Acredito que seria muito benéfico, já que resultaria em mais demanda. Tome o Acre, por exemplo. O Acre espera emitir créditos jurisdicionais no final deste ano e, se tiverem outra fonte de demanda, terão acesso a mais capital.
Haverá interação entre mercados voluntários e pré-compulsórios e compulsórios, mas o surgimento de novos mercados ou de nova demanda é sempre uma coisa boa.
Ainda não formalizamos mercados compulsórios, embora estejamos todos esperando que o primeiro seja a Califórnia. Mas mesmo assim veremos trabalhos interessantes de organizações tais como a Forest Carbon Partnership Facility (FCPF) ou o Banco Mundial, que serão fontes importantes de demanda. Eles têm acordos com uma série de países e comprarão toneladas de créditos, embora eles não estejam se comprometendo com a totalidade das toneladas, o que de novo volta ao ponto sobre proponentes de projeto e programa que têm muitos possíveis compradores para suas reduções.
Então o programa jurisdicional na Costa Rica, por exemplo, pode vender algumas toneladas para o FCPF, vender outras internamente para atingir o plano de carbono neutro do país, e também comercializar outras no exterior. Só posso imaginar que ter muitas fontes de demanda será bom, já que isso terá um impacto positivo no preço.
Quais recursos existem para as pessoas interessadas em saber mais sobre mercados de carbono florestal?
Nosso banco de dados de projeto é o repositório central de informação de todos os projetos validados pelo critério VCS e de todas as Unidades de Verificação de Carbono (VCU) emitidas pelo programa. Cada VCU pode ser rastreada da emissão à retirada no banco de dados e se pode fazer download da informação para realizar análises próprias, tais como avaliar o papel que as reduções de emissões florestais têm no âmbito do Programa de VCS.